- Vamos brincar de casinha João?
Pergunta uma mãe haitiana tentando minimizar o sofrimento de seu filho faminto e desnutrido. Senta aqui que mamãe vai preparar seu café da manhã. Então, caminha a passos trêmulos a jovem esquelética aparentando uns 53 anos e pega uma bacia velha. Coloca um pouco de água suja, lança uma gordura estranha parecendo uma margarina e acrescenta argila.
Mistura todos os ingredientes, e as lágrimas que rolam em sua face, caem na bacia dando gosto salgado à massa. O gosto da angustia, do desespero, da falta de esperança, do esquecimento, da fome. Que sabor tem a fome?
Logo depois, ela pega um pedaço da massa faz um biscoito redondo e põe para secar ao sol.
- Pronto meu amor, o café está pronto.
Então a brincadeira acaba. Mãe e filho se deliciam com aquela obra da natureza. Obra que nem o mais renomado mestre da culinária imaginaria. Obra esta, que é fruto de uma sociedade perversa que enquanto alguns se deliciam com caviar e saboreiam champagnes milionários e outros reclamam do seu diário feijão com arroz, outros seres iguais a nós estão fadados a saborear o ácido e insosso sabor da indiferença, do egoísmo e da crueldade de um sistema que para regar alguém com ouro precisa sugar a alma de outrem, até a mais faminta delas.
Alguém aceita um biscoito de argila?
Jacques Manz
1 comentários:
d++ esse....arrepiei...
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