segunda-feira, 26 de julho de 2010

Lembrando de tentar não me esquecer!


E assim, eu fui tudo o que sempre quiseram que eu fosse. Não me reconhecia. Como era difícil ser eu mesmo. Dentro do peito havia uma necessidade maior, perdia-me em meus anseios e mal sabia que caminho tomara.
Questionava-me o certo e o errado, enquanto alguns diziam já está errado só em questionar. Era dúvida, fraqueza, falta de fé.
Sonhei ser eternamente seu amor. E o eterno enquanto dure nunca foi tão instantâneo. Eu era imperfeito demais para você, meus pecados imperdoáveis feriam sua bondade. Você me construiu assim. Era sua verdade contra minha simples vontade de ser eu mesmo.
Tão simples que eu já pouco me importava. E passei a vestir o personagem que criastes para mim. Nem era tão ruim assim - dizia meu eu reprimido na tentativa de ser perfeito para você - Mas como assim perfeito? Caso Deus na sua grande magnificência criou o ser humano perfeito? Como poderia você fazer de mim uma obra de arte infalível, admirada com emoção pela platéia que você insistia em exibir-me?
Até quando fugirei de mim? Serei tão capaz assim dessa interpretação? Encontro-me perdido em mim, bagunçado em minhas gavetas, atordoado em minha mesa com papéis velhos e amarelos, confuso no porão no qual me prendestes e já não consigo sair. Estou preso a você!
Preso a uma adoração, fruto da imaginação de uma alma fraca.
Só havia uma solução. Arrancar-te-ei do pedestal que eu também criei para você. Não me dobrarei às suas palavras sacrossantas e persuasivas. Seu altar caiu sobre sua cabeça e resta-te a cruz. Uma pesada cruz de madeira legítima. A saber, a dor de ver meu amor passar por ti sem ao menos reconhecestes.
Acho que estou me encontrando. Estou novamente percebendo minha face no espelho. Nossa! Tinha esquecido quão bonito era. Não é mais seu nome que carrego no pescoço. Meus olhos brilham com luz própria. Chega de cenas, gravações, personagens. Não sou o melhor, nem você o pior. Não sou bobo, nem você esperto. Não sou o mais sofrido e nem você um malfeitor. Não sou crente em você e nem você meu deus. Somos almas que em segundos a fio, numa história talvez milenar, apostaram na possibilidade de contornar erros também milenares. Objetivo atingido...
Até a próxima vida.

                                                                                                                          Jacques Manz




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