sábado, 21 de agosto de 2010

Eu queria ser...


Eu quero viver nas alturas,
Eu quero conhecer a profundidade,
e presenciar na manhã escura,
a lua de sangue minguando fatalidade.
Eu quero ser a imensidão do mar,
Eu quero um dia ser grão de areia,
nas muitas águas me afogar,
e ser destruído pelo canto da sereia.
Eu quero ser a árvore cortada,
Eu quero ser a serpente e me engasgar com meu veneno,
por entre os caminhos vou para o nada,
me encontrando e me perdendo neste mundo tão pequeno.
Eu quero ser a revolta do vento,
Eu quero ser a tempestade no deserto,
enterrar meu sonho, meu pensamento,
e fugir desse destino tão incerto.
Eu quero ser a peste que mata,
Eu quero ser a desgraça que assola,
dizimar o amor fingido que ata,
numa prisão de solidão que sufoca e vai embora.
Eu quero ser o pessimismo do poeta,
Eu quero ser o canto triste dos artistas,
e na harmonia melancólica e discreta,
exterminar sentimentos egoístas.
Eu quero ser a alegria da morte,
Eu quero ser a dor da vida,
gemer a aflição de nascer sem sorte,
e a amargura de uma infância perdida.
Eu queria mesmo, pelo arco-íris ser colorido,
Eu queria mesmo, nascer de novo como o amanhecer,
olhar o jardim e contemplá-lo florido,
ver a última pétala cair na esperança do fruto nascer...
Eu queria ser...

                                                                         Jacques Manz



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